“Paz e Amor!”
João 14.23-29:
Jesus, respondeu [a Judas, não o Iscariotes] dizendo-lhe:
— Se uma pessoa me ama de verdade, ficará atenta à minha palavra, e o meu Pai a amará incondicionalmente. E o meu Pai e eu viremos morar com ela. A pessoa que não me ama não dá atenção à minha palavra. Ora, a palavra que vocês estão ouvindo não é minha, mas do Pai, que me enviou.
— Digo estas coisas enquanto ainda estou na companhia de vocês. Mas, depois da minha partida, quem ensinará a vocês todas as coisas e fará com que se recordem de tudo o que eu disse será o Espírito Santo, um conselheiro que o Pai lhes enviará em meu nome.
— Deixo para vocês a paz. E a minha paz não é a mesma paz que o mundo romano dá. Por isso, não fiquem com o coração desassossegado, nem amedrontados.
— Vocês já me ouviram dizer: “Eu vou partir, mas voltarei para morar com vocês.” Se vocês me amam de verdade, ficarão felizes por mim, sabendo que vou para o Pai, pois o Pai é maior do que eu.
— Digo essas coisas a vocês antes que aconteçam, para que, quando acontecerem, vocês creiam e continuem fiéis.
* * *
Além do novo mandamento do velho Amor, Jesus deixou de herança para os seus também a sua Paz. Mas fez questão de frisar que a sua era muito diferente da paz do mundo. Nos tempos de Jesus, a paz era garantida por um “progrom” imperial, conhecido por “Pax Romana”.
Por mais contraditório que pareça, a paz do império era garantida pela força do exército, que esmagava qualquer levante, agindo rápida e impiedosamente ao primeiro sinal de revolta. E o Império cobrava caro por essa “comodidade” (commodity?): impostos, impostos e mais impostos. Quem não os pagava, sofria os horrores e as dolorosas consequências de atravessar o caminho ou andar na contramão da “Pax Romana”. Era assim que a ameaça e o terror garantiam a paz ou, ao menos, a ausência de guerras.
É por essa razão que a paz que Jesus deixa de herança, para seus discípulos, nada tem a ver com a paz que o império dá. Ele diz: “A minha paz eu dou.” Tendo em mente que Jesus falava aramaico, a palavra que provavelmente estava em seu coração não seria a “pax” latina, nem a “eirene” grega, mas o “Shalom” bíblico.
“Shalom” é uma palavra hebraica polissêmica, que abraça os conceitos de: paz, harmonia, integridade, prosperidade, bem-estar e tranquilidade e pode ser usada, idiomaticamente, para significar tanto “olá” como “adeus”. Só que desejar “Shalom” a alguém tem a implicação de uma bênção, como no Salmo 67: “Seja Deus gracioso para conosco, e nos abençoe, / e faça resplandecer sobre nós o rosto; / para que se conheça na terra o teu caminho / e, em todas as nações, a tua salvação.”
A diferença entre a “Pax” e o “Shalom” é que uma, a “Pax”, é imposta a partir de fora e apazigua apenas as aparências, mas nada pode fazer para sossegar um coração atribulado. O “Shalom”, por sua vez, vem de dentro, e pode serenar o coração, ainda que, do lado de fora, o mundo se transtorne.
Esta é a herança que Jesus nos deixou: o Amor e a Paz. Um amor sem porquês, e uma paz sem explicações, ambos excedem a todo entendimento (cf. Fp 4.7).
Esse é o DNA do cristão: o Amor e a Paz.
Por isso, acho que hoje vou sair por aí cumprimentando todo mundo, dizendo: PAZ e AMOR!
Reverendo Luiz Carlos Ramos†
(Para o Sexto Domingo da Ressurreição, Ano C, 2016)