Para quem iremos?
(Cf. João 6.56-69)
No início da década de 90, num encontro de atualização teológica promovido pelo CEBEP, o Rubem Alves fazia uma conferência. Na hora do debate, o Rev. Acir Rikli, que na época pastoreava uma área rural, no interior do Paraná, muito preocupado com o que via acontecer nas igrejas dos centros urbanos, perguntou ao conferencista: “— Rubem, o que você acha que vai acontecer com a igreja no futuro?” Com sua maneira peculiar, o Rubão colocou as mãos na cabeça, apertou os lábios, e depois de um silêncio eloquente e um suspiro profundo, respondeu:
— Será uma geração de religiosos ateus!
E aqui estamos nós, em pleno futuro, e podemos constatar de camarote: As igrejas estão cheias de religiosos ateus. Sim, de pessoas que estão preocupadas unicamente com os seus próprios interesses. Deus não faz falta nenhuma nesse tipo de religiosidade. Porque ninguém pergunta pela vontade de Deus. Como se estivessem diante de um gênio da lâmpada, preferem esfregar seus amuletos e pedir favores, benefícios, vantagens… Atraídos pelo discurso fácil dos pregadores espetaculares, muitos se acotovelam na expectativa do milagre, do show da fé.
Contudo, a pregação do Cristo dos Evangelhos é bem diferente, a ponto de poucos a poderem suportar: “Muitos dos seus discípulos, tendo ouvido tais palavras, disseram: — Duro é este discurso; quem o pode ouvir?” A mensagem do Evangelho vai na contramão da religião supersticiosa, espetacular e materialista. E “à vista disso, muitos dos seus discípulos o abandonaram e já não andavam com ele” (Jo 6.60 e 66).
A uns poucos que ainda permaneciam ali, ao seu redor, o Mestre dirige uma pergunta que ressoa desafiadora ainda mais para nós hoje:
“— Porventura, quereis também vós outros retirar-vos?” (Jo 6.67).
Pela graça de Deus, ainda há alguns que, como Pedro, teimosamente resistem, persistem e insistem em seguir na contramão da moda religiosa, e optam por permanecer ao lado do Mestre:
“— Senhor, para quem iremos? Tu tens as palavras da vida eterna” (Jo 6.68).
Em meio à religiosidade supersticiosa e obscurantista do nosso tempo, nós queremos constituir aqui, na Capela da Serra — em sintonia com tantos outros que se alimentam da mesma esperança—, uma verdadeira casa de Deus, isto é, um lugar para toda gente que como os pardais e as andorinhas andam aflitos em busca de abrigo e estão a perguntar: “— Senhor, para quem iremos?”
Queremos nos oferecer como espaço singelo e comunal, de acolhida e encontro celebrativo, de diálogo ecumênico e comunhão em torno da mesa e das “palavras de vida eterna” anunciadas por Jesus o Cristo.
Que Deus ouça o desejo balbuciado pelo nosso coração e nos aceite nos seus átrios.
Obrigado Pastor Luiz Carlos Ramos, como fiel metodista, a 62 anos,tua mensagem tem me alimentado nas manhãs de domingo! Grande abraço!