O trigo, o fermento e o fogo
Pentecostes é a festa das colheitas. Particularmente dos grãos: trigo e cevada. Matéria prima para a feitura do pão, unidade básica da alimentação no Israel bíblico.
O nome “pentecostes” é influência grega e deriva do número 5 porque essa festa é celebrada 50 dias após a Páscoa.
A Páscoa tem como um dos seus símbolos mais enfáticos o “pão ázimo”, o pão sem fermento. Este retrata a adversidade, a rudeza, o contexto inóspito da fuga da escravidão para o deserto hostil.
Mas no Pentecostes o contexto é de fartura: “A terra deu o seu fruto.” (Sl 67.6)
E podemos deduzir que nessa festa, realizada em ação de graças pela colheita dos grãos, o que não faltava era pão. Não o ressecado pão sem fermento feito às pressas, mas o saboroso pão levedado, preparado com vagar, cuidado e esmero.
O pão ázimo, sorvido na Páscoa, intensifica o sabor do pão levedado servido no Pentecostes. Quem passa pelo trauma da dor saberá, quem sabe, desfrutar mais parcimoniosamente da experiência do prazer.
O pão fica mais saboroso quando levedado. Ora, o que o fermento faz com a massa é injetá-la de ar. O pão aerado fica mais macio, se torna mais fácil de ser saboreado pelas crianças, pelos idosos, pelos enfermos…
No cristianismo originário —já quase perdido na história das nossas degradações doutrinárias—, o Pentecostes celebra a descida do Espírito Santo sobre os seguidores e seguidoras do Cristo. E Jesus, o nosso Cristo, nos ensinara que o Espírito é “pneuma”, vento, sopro que areja e nos infla com novidade de vida.
O Espírito faz com aquele e aquela que crê o que o fermento faz com o pão: nos inunda com seu alento numa epifania espiritual.
No Pentecostes cristão, também o fogo ganhou força simbólica.
Tudo a ver com pão quentinho. Levedado pelo alento divino e aquecido pelo calor descido do céu.
O trigo e, particularmente, a cevada, do pão dos pobres, sustentam o corpo, reanimam alma e fortalecem o espírito.
É como se Jesus estivesse nos dizendo:
“Tomai e comei.
O pão que lhes dou está cheio de Espírito,
do meu Espírito.”
Reverendo Luiz Carlos Ramos
Pentecostes 2020