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T e x t o s & T e x t u r a s

O papa que sorri

 

PapaFrancisco

Papa Francisco ri ao chegar no Coliseu para presidir a Via Sacra (REUTERS/Alessandro Bianchi)

Primeiro, deixem-me estabelecer uma distinção entre “rir” e “sorrir”: Nós sempre rimos de alguém ou de alguma coisa, e sorrimos para alguém ou para alguma coisa. Não cheguei a essa conclusão recorrendo a altas filosofias, mas pela simples observação daqueles que me cercam. A partir dessa constatação, formulei uma teoria pela qual ouso classificar as pessoas em duas categorias: as que riem e as que sorriem. As primeiras, relego-as a uma casta inferior, porque rir de parece ser quase sempre um ato depreciativo, desdenhoso e, não raro, de desprezo. Ao passo que sorrir para sugere amabilidade, afabilidade e, mesmo, meiguice. Claro que todos nós por vezes rimos e por vezes sorrimos, no entanto, a teoria não é para ser aplicada ao episódico, e sim ao cômputo médio e geral. As pessoas ou são predominantemente ridentes, ou predominantemente sorridentes.

E o que tem o Papa a ver com isso? Bem, notei, desde a primeira vez que o vi, que ele é do tipo sorridente. E porque o tenho visto sorrindo em tão frequentes ocasiões, me dei conta de que raras vezes isso acontecia com os seus antecessores, bem como com o seu séquito de religiosos graves, de vestimentas escuras e semblantes carregados, que sempre o escoltam. Então, lembrei-me de ter aprendido do Rubem Alves que os demônios são sérios e graves, e que Deus é leve e ri (no caso de aplicar-se a minha teoria, devemos dizer que Deus é leve e sorri).

Não sou católico, mas gostaria que também os líderes das outras tradições religiosas sorrissem mais, inclusive os da minha igreja. Vejo-os, ultimamente, muito sérios e graves. Se eles sorrissem mais, saberíamos com certeza que nos querem bem e desejam, igualmente, o nosso bem (e não os nossos bens, como diria o Pe. Antônio Vieira). O texto do Evangelho do próximo domingo (28 de julho) inclui a passagem que diz: “Qual dentre vós é o pai que, se o filho lhe pedir pão, lhe dará uma pedra? Ou se pedir um peixe, lhe dará em lugar de peixe uma cobra?” (Lc 11.11). Ri-se às gargalhadas quem dá pedra a uma criança que lhe pede pão, ou dá cobra quando lhe pede peixe. O pai que ama o filho ou filha, ao contrário, dá-lhe, se preciso for, seu próprio pão e seu próprio peixe, e ainda o abençoará com seu sorriso.

Então, como não-católico, quero, pelo menos, retribuir a esse irmão Francisco o sorriso. E, com a simplicidade e a prudência dos que têm fé, dizer que ainda creio que a religião pode alimentar as crianças e fazer sorrir os anciãos.

Luiz Carlos Ramos
(23.07.2013, por ocasião da visita do Papa Francisco ao Brasil)

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4 Comentários

  1. O sorriso aconchega. Creio que Jesus sorriu muitas vezes para os desfavorecidos de sua sociedade.
    Que tenhamos sempre a leveza do Mestre como “modelo” , assim como tantos servos de Cristo, que também como o Francisco, revelam em ações.

  2. Ótimo texto, bela reflexão! Realmente traduz a simpatia que traz esse Papa!

  3. Muito bom, Deus sempre enchendo seu coração de palavras simples e sábias. O sorriso é um dos instrumentos para construir a ponte entre os extremos da humanidade, a ponte que ao final se denomina amor. Por isso não basta apenas amortecer a dor, amortecer a mágoa, amortecer as diferenças, precisamos nos unir e o amor-tem-que-ser a nossa ponte. Obrigado por me fazer começar o dia bem, abraços.

  4. Prezado Doutor e Rev. Luiz Carlos,
    Parabéns pela percepção e reflexão, a respeito do Papa!
    Como sempre, és um grande observador e consegue extrair a essência boa de tudo que o cerca.
    Que Nosso Bom Deus continue lhe dando bastante sabedoria, visão, percepção para compartilhar conosco!
    Saudações sorridente, alegre e sincera…
    Abraços do eterno aluno: Carlos Wesley (Brasília-DF)

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