O grão, o chão e o pão
Mateus 13.1-8 (LCR):
O semeador saiu a semear. E, ao semear, algumas sementes caíram à beira do caminho, mas vieram as aves e as comeram. Outra parte caiu em solo rochoso, onde a terra era pouca, e logo germinaram, visto não ser profunda a terra. Saindo, porém, o sol, queimou as plantinhas; e, porque não tinham raiz, secaram-se. Outra parte caiu entre os espinhos, no entanto os espinhos cresceram e sufocaram as sementes assim que começaram a germinar. Outra parte, enfim, caiu em boa terra, e essas sementes, sim, deram muito fruto: a cem, a sessenta e a trinta grãos para cada um semeado.
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A vida nos tempos de Jesus era dura. A fome era uma ameaça constante, agravada pelas severas estiagens e pelas más colheitas sucessivas.
Jesus conhecia bem o ciclo da vida no campo, que girava em torno dos tempos de plantio e colheita.
Jesus sabe que é preciso arar em linha reta sem olhar para trás. Se admira, com os lavradores, de como a natureza se encarrega de fazer brotar e germinar o broto e crescer a planta sem saberem exatamente como isso se dá. Sabe quão difícil é distinguir o joio do trigo em seus primeiros estágios… E sabe como é árduo e, muitas vezes, ingrato o trabalho da semeadura, que exige muito esforço e, com frequência, resulta pouco frutífero.
Especialmente para os camponeses que têm pouca terra, toda área deve ser aproveitada. É preciso arriscar, mesmo nos solos mais inóspitos e pouco promissores. Os pobres semeiam não onde querem, mas onde podem. Não o fazem por negligência, é por falta de alternativa. Há bocas para alimentar. Tempos difíceis se avizinham. É preciso colher o suficiente para saciar aquelas bocas famintas e ainda estocar sementes para o próximo ano.
É nesse contexto que Jesus conta a Parábola do Semeador, que não semeia tão somente onde quer, mas em qualquer lugar onde pode. Interpretando a estória, Jesus diz que Semeador é ele mesmo, a semente é a Palavra, e os diferentes tipos de solo são o coração humano.
Não é que haja alguns corações bons enquanto outros sejam maus, como se houvesse corações próprios e corações impróprios para receber a Palavra. Não parece que existam quatro tipos de coração, mas é mais provável que um mesmo coração possa conter os quatro tipos de solo. Ser duro, árido, espinhoso e fértil ao mesmo tempo ou em tempos sucessivos.
Nós somos esse coração cujo solo nem sempre é fértil, mas nem por isso é negligenciado pelo Semeador. Aquela roça que ontem era árida, empedernida, ou espinhosa, pode vir ser o solo fértil hoje e produtivo amanhã.
Desertos podem ser transformados em jardins, desde que os jardineiros não desistam. Tal como o Semeador da parábola, Jesus nunca desiste de nós, até que nos tornemos terra boa, fértil, pronta para fartar de pão toda casa, e saciar a fome do mundo inteiro.
Reverendo Luiz Carlos Ramos †
Para o Sexto Domingo da Peregrinação após Pentecostes
| Ano A, 2017