Não se esqueça de mim quando você voltar como Rei.
Lucas 23.33-43
Chegaram finalmente ao Calvário, e foi nesse lugar, em forma de caveira, que crucificaram Jesus, junto com outros dois criminosos, um à sua direita e outro à sua esquerda.
[Em meio à agonia, contudo, Jesus dizia: “Pai, perdoa esta gente! Eles não têm a menor ideia do que estão fazendo.”]
Indiferente, os soldados jogavam dados para decidir como haveriam de repartir entre si as roupas de Jesus.
A multidão curiosa ficava lá, assistindo à cena.
As autoridades pedantes se divertiam zombando: “Vejam só! Ele não andou por aí salvando tanta gente? Pois que se salve a si mesmo, se de fato é o Messias.”
Também os soldados troçavam de Jesus. Vinham até ele e lhe ofereciam vinagre para beber. E caçoavam: “Se você é mesmo o rei dos judeus, desça daí e salve-se a si mesmo!”
Lá no alto da cruz estava afixada uma tabuleta com a epígrafe [em caracteres gregos, romanos e hebraicos], “ESTE É O REI DOS JUDEUS”.
Quanto aos criminosos crucificados ao seu lado, um deles também zombava: “Se você é o Messias, o que está esperando? Salve sua pele, e também a nossa!”
Mas o outro malfeitor o censurava: “Mas será que você não teme a Deus? Ainda mais sabendo que fomos condenados pelo mesmo motivo que ele? No nosso caso, a condenação é merecida, e estamos sendo castigados por causa do que praticamos. Mas ele? Ele não tem culpa de nada, pois não fez nada de mau.”
Então, suplicou: “Jesus, não se esqueça de mim quando você voltar como Rei.”
Jesus lhe respondeu: “Eu lhe garanto: hoje mesmo estarás comigo no paraíso.”
* * *
Desde o Primeiro Domingo do Advento de 2015 até agora, repassamos a História da Redenção, a maior de todas as histórias. Para fechar o ciclo celebrativo da nossa fé ao longo do ano, foi estabelecido o Domingo [do] Cristo Rei.
Como facilmente se nota, o Calendário Litúrgico nos dirige por uma linda estrada de lembranças, presenças e esperanças. Ao longo do Ano, recordamos, vivenciamos e renovamos nossos compromissos com o Novo Mundo de Deus.
No Ciclo do Natal, caminhamos das trevas para a luz. No da Páscoa, migramos das cinzas para o fogo. No Tempo após Pentecostes, peregrinamos das lágrimas para a alegria.
Cada um desses períodos tem um ápice: O Natal termina com a Epifania, que é quando a Estrela da Manhã ilumina todos os povos, ali representados pelos Magos que vêm do distante Oriente, de tão diferentes e variados costumes, religiões, e idiomas. A Páscoa culmina com o dia de Pentecostes, ocasião em que o Espírito Santo anuncia as maravilhas de Deus, em linguagem maternal, possibilitando o entendimento entre todos os povos da terra, a despeito de tão diferentes e variados costumes, religiões e idiomas.
Neste domingo, chamado Cristo Rei, celebramos a consumação da História da Redenção com a volta de Jesus, agora como o soberano dos reis da terra.
Contudo, o texto sugerido pelo lecionário pode frustrar aqueles que esperam um Pantocrator, um general todo-poderoso, um super-imperador implacável, um temível e terrível Kaiser.
Sim, o que o Evangelho nos oferece sobre esse Rei está expresso numa tabuleta afixada não na Imprensa Oficial, mas no alto de um instrumento de tortura. O Rei não está suntuosamente sentado sobre um magnifico trono, mas pregado dolorosamente numa cruz. Esse rei não ostenta uma coroa dourada e cravejada de pedras preciosas… ao contrário, sua coroa é de espinhos que lhe ferem e sangram a fronte…
… E qual seria seu território? Ao que parece, não vai muito além de alguns poucos corações arrependidos e contritos.
Não, não parece um Rei todo-poderoso! Esse Rei está nu, despido de qualquer poder terreno, sem exército, sem território, sem súditos, sem palácios, sem trono, sem ouro e sem prata… já não possui sequer capa ou túnica.
Tudo isso porque o reino, que é governado por esse rei, é sustentado por outros valores. Ele é feito de Justiça, Paz e Alegria (cf. Rm 14.17). Nessa ordem! Porque sem justiça não há paz, e sem paz nunca seremos felizes.
E, em meio a toda essa gente pedante, arrogante, zombadora e criminosa, haverá sempre uns poucos de coração compungido e contrito a suplicar: “Jesus, não se esqueça de mim quando você voltar como Rei.”
Estes não precisarão esperar, pois haverão de tornar-se, hoje mesmo, cidadãos e cidadãs do Novo Mundo de Deus. É aqui que fica o lugar onde reina a justiça, a paz e a alegria.
Rev. Luiz Carlos Ramos†
Para o Domingo [do] Cristo Rei
| Ano C, 2015/2016