A Palavra e a Voz
A propósito do Terceiro Domingo do Advento (Ano A, 2013).
Mateus 11.2-11: […] 2 Quando João ouviu, no cárcere, falar das obras de Cristo, mandou por seus discípulos perguntar-lhe: 3 És tu aquele que estava para vir ou havemos de esperar outro? 4 E Jesus, respondendo, disse-lhes: Ide e anunciai a João o que estais ouvindo e vendo: 5 os cegos veem, os coxos andam, os leprosos são purificados, os surdos ouvem, os mortos são ressuscitados, e aos pobres está sendo pregado o evangelho. 6 E bem-aventurado é aquele que não achar em mim motivo de tropeço. 7 Então, em partindo eles, passou Jesus a dizer ao povo a respeito de João: Que saístes a ver no deserto? Um caniço agitado pelo vento? 8 Sim, que saístes a ver? Um homem vestido de roupas finas? Ora, os que vestem roupas finas assistem nos palácios reais. 9 Mas para que saístes? Para ver um profeta? Sim, eu vos digo, e muito mais que profeta. 10 Este é de quem está escrito: Eis aí eu envio diante da tua face o meu mensageiro, o qual preparará o teu caminho diante de ti. 11 Em verdade vos digo: entre os nascidos de mulher, ninguém apareceu maior do que João Batista; mas o menor no reino dos céus é maior do que ele.
Depois de João Batista ter dado testemunho de Jesus (Mt 3.1-13), agora é Jesus quem dá testemunho de João:
Que saístes a ver no deserto? Um caniço agitado pelo vento? Sim, que saístes a ver? Um homem vestido de roupas finas? Ora, os que vestem roupas finas assistem nos palácios reais. Mas para que saístes? Para ver um profeta? Sim, eu vos digo, e muito mais que profeta.
Santo Agostinho, o maior pregador e teólogo de todos os tempos (na minha irrisória opinião), ao distinguir Jesus de João Batista, disse que aquEle é a Palavra e que este é a Voz. João Batista exclamava: “convém que ele (a Palavra) cresça e que eu (a Voz) diminua”. A Palavra é eterna, a voz é transitória, mas nem por isso desnecessária, pois é pela voz que a Palavra alcança o coração. Quando quero transmitir a Palavra que está no meu coração para o teu coração, sirvo-me da voz. A voz leva o que está no meu coração até o teu. Feito isto, a voz desaparece. Permanece, porém, a Palavra no teu e no meu coração eternamente. (Cf. Sermão 293, 3: Patrologia Latina. 38, 1328-1329).
Agostinho, João Batista e o dêutero Isaías, sabiam que a voz é passageira, fugaz, mutável, transitória; ao passo que a Palavra é permanente, firme, imutável, eterna:
Uma voz diz: Clama; e alguém pergunta: Que hei de clamar? Toda a carne é erva, e toda a sua glória, como a flor da erva; seca-se a erva, e caem as flores, soprando nelas o hálito do SENHOR. Na verdade, o povo é erva; seca-se a erva, e cai a sua flor, mas a palavra de nosso Deus permanece eternamente. (Isaías 40.3-8)
Assim, devemos ter a consciência de que também a nossa voz é passageira, viajante e peregrina. Um dia, essa voz desaparecerá… Permanecerá, entretanto, em cada coração a Palavra transmitida carinhosamente de coração para coração.