A máscara e o véu
Nestes dias de festa popular, muitos têm o costume de sair usando máscaras. As razões para isso podem ser as mais diversas. Elas podem ser mero adereço, objeto lúdico ou mesmo um disfarce. Enganam-se, muito, no entanto, aqueles que pensam que usando uma máscara escondem sua verdadeira identidade. Na verdade acontece o oposto. A escolha de determinada máscara (por que não outra?) acaba justamente revelando os traços mais significativos da personalidade do mascarado. Freud e Cia. entenderam e explicaram isso muito bem. Aquilo que esconde é justamente o que mais revela.
No teatro antigo, os atores usavam máscaras feitas de cera. É daí que vem a nossa palavra “sincero”, isto é, sem+cera. Sincero seria então aquela pessoa que não usa máscaras.
O encontro de Moisés com Javé no monte Sinai transformou-o completamente, inclusive sua aparência (cf. Êx 34.29-35). Seu rosto se tornou radiante e por isso ele resolveu cobri-lo, de maneira um tanto suspeita, com um véu. Mas o apóstolo Paulo, muito antes de Freud, percebeu aquilo que o véu, em vez de esconder, revelava (vd. 2 Co 3.12-4.2). Cobrindo-se, Moisés queria, na verdade, esconder o fato de que seu rosto ia perdendo o brilho. O véu também revela! Aliás, as nossas palavras “velar” e “revelar” vêm justamente daí: cobrir com véu e tirar o véu.
Jesus também foi transfigurado diante dos seus discípulos mais chegados, mas não se preocupou em esconder o rosto (vd. Mt 17.1-9; Lc 9.28-36 e Mc 9.2-8). Jesus não usa, não precisa e nem quer usar máscaras. Como Javé, Jesus é aquEle que É.
A partir da Quarta-Feira de Cinzas, começaremos um novo tempo litúrgico, a Quaresma, durante a qual nos havemos de preparar para a celebração da Páscoa. Esse deverá ser um tempo de deposição das máscaras, de busca da autenticidade. Aqueles e aquelas que costumam observar o ritual das cinzas, na quarta-feira, bem poderiam —em lugar de usar as cinzas dos ramos das palmeiras, como de costume— queimar suas máscaras e usar essas cinzas no ato penitencial.
Porque, quanto mais sinceros, mais humanos, e quanto mais humanos, mais radiante a imagem e a semelhança de Deus resplandecerão no nosso rosto e na nossa vida.
Reverendo Luiz Carlos Ramos†
(Para o Domingo da Transfiguração e a Quarta-Feira de Cinzas, Ano A, 2014/2017)
Prezado Professor, louvo a Deus por sua vida e por sua sabedoria, obrigado por nos blindar com um texto tão inspirado nesse tempo de escassez exegética e discursos superficiais.
Obrigado, Luiz Henrique. Abração.
Adorei esta frase: “Porque, quanto mais sinceros, mais humanos, e quanto mais humanos, mais radiante a imagem e a semelhança de Deus resplandecerão no nosso rosto e na nossa vida.” Grande e oportuna reflexão, Professor!
Forte abraço, Silvana,
Luiz
Diante de edificantes palavras sou impulsionado a louvar a Deus por tua preciosa vida amado irmão e partilhar com muitos este alimento sustentável que de graça recebi. Fraterno abraço com saudades do meu irmão, irmão!
Caríssimo Lindberg, companheiro de copo e de cruz,
Sua amizade e incentivo são um sopro alentador do Espírito do nosso bom Deus sobre a minha vida.
Abraço terno e fraterno.
Seu sempre,
Luiz