A alma da minha casa
Luiz Carlos Ramos
Com palavras torcidas e roubadas a Manuel de Barros
(Para D. Odete Ramos)
…
Atrás da minha casa de menino o rio fazia curvas, e ainda faz.
Da varanda dos fundos a gente ouvia o coaxar do rio.
Ainda hoje as flores capturam beija-flores e os libertam de beijos.
Quando a rua da minha casa ainda não tinha calçada,
a gente divisava um ombro de barranco
e o escalava pra esticar os horizontes.
Na cozinha, o fogão à lenha estalava o calor do inverno.
A chaleira fazia um chiado cinza pra ferver a água.
A gente se aninhava ao redor da vitrola
pra escutar estórias amarelas, verdes e azuis.
Escutava e tornava a escutar.
Repetia e repetia e repetia até ficar diferente.
À noite a gente adormecia um canto de ninar materno.
A minha casa de menino tem uma alma
que alguns chamam “Odete”.
Pra mim, o som que ela fazia era “Mãe”,
e ainda faz.
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Que lindo! A fotografia da D. Odete está muito expressiva e alegre, e a poesia transbordando gratidão e sabedoria. Parabéns pela mãe especial.