A vida vale mais que o dogma
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(Ler Marcos 2.23-3.6)
«[…] PARA JESUS, A ECONOMIA (a barriga e a fome, o corpo e o alimento) adquire uma dimensão teológica densa. Por sua vez, a teologia assume significado econômico nas necessidades fundamentais da vida de cada pessoa. A economia é profundamente religiosa aos olhos de Jesus. E tudo que mata a fome é sagrado. Não é por acaso que os autores do livro de Rute chegam a dizer “que Deus tinha visitado seu povo dando-lhe pão” (Rute 1.6). Na mesma linha, Mahatma Ghandi dizia que, para um faminto, Deus não pode apresentar-se em outra figura senão a do pão. Também não é por acaso que Jesus, em sua oração, colocasse o pedido pelo “pão nosso” no centro, no coração dessa síntese de seu evangelho (Mateus 6.9-13). Portanto, Jesus desloca o peso que os fariseus punham no cumprimento da lei do sábado para a questão da fome, do estômago vazio. Aqui, convém lembrar que, ao Jesus propor os critérios básicos para seguir seu projeto de vida, a primeira atitude, entre outras, é “eu estive com fome e me destes de comer” (Mateus 25.35). Para Jesus, o direito à comida é o primeiro direito humano de toda pessoa.
Por um lado, nenhuma lei pode ser absolutizada, tornar-se tirana, mas precisa levar em conta a vida concreta das pessoas, das mais fracas e menos protegidas. Por outro, nenhuma lei pode ser universalizada, aplicada de igual forma para todas as pessoas. É possível ter uma lei igual para todas as pessoas se nem todas têm igualdade de condições? Como é aplicada a lei em nosso país nos dias atuais? Para proteger quem? Em detrimento de quem?
Jesus deixa claro que a função da lei é trazer benefícios para as pessoas, superando a fome (Marcos 2.23-28) e as deficiências (Marcos 3.1-6). É servir ao invés de resultar em prejuízos. Várias vezes, Jesus viola as leis referentes ao sábado diante de situações de fome e de doença (Marcos 2.23-28; 3.1-6; Lucas 14.1-6; 13.10-17; João 5.1-18; 9.1-12). Com isso, deixa claro que as leis são relativas e, ao mesmo tempo, são antievangélicas quando implicam em dano para as pessoas. “De modo que o filho humano é senhor também do sábado” (Marcos 2.28). Por isso, Jesus e todos os filhos da humanidade somos os senhores do sábado, enquanto este deve estar a serviço de todo ser humano. […]»
Parte da reflexão escrita por Ildo Bohn Gass
“Jesus sobrepõe às leis o direito à vida”,
publicada na página do Centro de Estudos Bíblicos (CEBI)
<https://www.cebi.org.br>
Para o Terceiro Domingo da Peregrinação após Pentecostes
| Ano B, 2018