Rupturas, junturas e tecituras
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“Por isso, o homem deixa pai e mãe
e se une à sua mulher, tornando-se os dois uma só carne.
Ora, um e outro, o homem e a sua mulher,
estavam nus e não se envergonhavam.”
(Gn 2.24-25)
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O que dizer a um casal, que já está junto há 50 anos, que já não tenha sido dito? Por essa razão, não me preocuparei em ser original, mas apenas em ser cordial, isto é, falar de coração.
No livro das origens está descrito, em sintéticos dois versos, o trajeto de duas pessoas que se amam e decidem viver junto.
I
Primeiro, elas precisam enfrentar o desafio da ruptura:
“Deixa pai e mãe…”
… isso implica abrir mão daquela segurança que se tem na casa paterna e do aconchego dos braços maternos. Significa deixar para trás as coisas de menino, as coisas de menina, e encarar um futuro incerto e ameaçador: o mundo dos adultos. Mas é assim que se cresce: mudando a casca, mudando de casa…
II
Depois eles experimentam o desafio da juntura:
“E se une a sua mulher, ao seu homem”.
A gente primeiro cresce, e depois se casa (pelo menos deveria ser assim). Essa, então, é a fase em que a ruptura dá lugar à união (esse é o significado da palavra “boda”= do lat. “vota”, plural de voto, juramento solene, promessa de ficar juntos, de permanecer unidos). É a hora da construção do novo: do novo lar, de uma nova relação familiar, de novos aconchegos e novas referências de segurança.
Nesse processo de união, vai ficando cada vez mais difícil distinguir a vida de um da vida do outro. E no caso da Maria Nair e do Acir, isso é notório. Sempre juntos, sempre grudados, sempre unidos.
(O já falecido Reverendo Moacir Jordão não desgrudava da sua esposa. Num dos encontros de pastores, na fila para o almoço, ele olhou ao redor e comentou: “Colegas, não quero dizer nada, mas a minha esposa é a mulher mais linda deste encontro.” E, de fato, não somente era a mais bonita, como era a única mulher naquele evento. Assim também com o nosso casal: a Maria Nair era sempre a mulher mais linda, na maioria dos encontros de pastores que participei com eles.)
Isso porque Maria Nair e Acir descobriram, nessa fase, que a gente se casa não porque encontrou alguém com quem se pode conviver, mas porque encontrou alguém com quem não se poderia viver sem.
III
Finalmente, o livro das origens conclui:
“Ora, um e outro, o homem e a sua mulher,
estavam nus e não se envergonhavam.”
Esta última é a fase da tecitura e do desnudamento total. Já não há melindres, não há reservas, não há pudores, não há vergonha… cada um pode ser, diante do outro, o que realmente é. É a plena aceitação. É quando voltamos a ser crianças. Afinal, não são as crianças que não têm vergonha de andar peladas pela casa?
A Maria Nair já sabe bem dos gostos e costumes do Acir, o Acir já conhece bem as manias e as preferências da Nair… Nessa fase, grande parte das palavras se tornam supérfluas ou são desnecessárias. Pode-se aproveitar, então, para dizer somente aquelas que são essenciais… aquelas que o hábito e o costume não desgastam.
A quantidade dá lugar à qualidade… o mais são olhares, pequenos gestos, toques sutis, sorrisos silenciosos… a plena cumplicidade (derivado do lat. “complexus” = formado por COM-, “junto’, mais PLECTERE, “tecer, tramar, urdir”).
E a vida vai sendo tecida, tramada, entremeada, costurada, bordada, pelos gestos essenciais.
Concluindo…
Maria Nair e Acir (Reverendo Acir, como sempre o chamei, desde os tempos em que ele foi meu tutor no Seminário Presbiteriano do Sul, em Campinas, e me levava para os encontros do Cebep e do Presbitério na sua possante Variante II)… Repetindo: Maria Nair e Reverendo Acir, hoje todos nós aqui viemos para prestarmos a vocês os nossos respeitos e falar da nossa admiração e carinho por vocês.
Alguns, aqui, como eu, além de tudo, ainda trazem um sentimento enorme de gratidão, por nos terem pastoreado com zelo, integridade e o exemplo da sua própria vida. Posso dizer, sem medo de estar exagerando, que minha vida, especialmente a parte boa dela, nunca seria o que é sem a sua amizade.
Estou certo de que todos aqui gostariam de fazer uso da palavra para prestar, igualmente, sua homenagem a vocês. Pena que o tempo (e a fome) não nos permitem matar essa vontade. No entanto, creio que temos um tempinho para, ao menos, pronunciar “uma palavra”, se pudermos assim sintetizar, que expresse nosso sentimento ao casal.
Este é o desafio: Os que quiserem, que digam, numa única palavra ou expressão, o seu sentimento em relação à Maria Nair e ao Acir. Mais tarde, durante a festa, se necessário, vocês terão a oportunidade, de explicar ao casal, porque escolheram tal ou qual palavra.
Vou aproveitar, então, e começar — depois de mim, quem quiser, pode dizer a sua palavra em voz alta:
— Maria Nair e Acir, minha palavra para vocês é: “Muito obrigado!”
Luiz Carlos Ramos
Bodas de Ouro de Maria Nair e Acir Rickli
Em janeiro de 2018