As cores claras do horizonte
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| Mateus 16.21-26 (LCR)
Depois da confissão de Pedro, Jesus passou a demonstrar aos discípulos ser imperativo ir até Jerusalém, mesmo sabendo que ali haveria de sofrer muitas coisas nas mãos dos líderes [gr.: presbyterós], dos chefes dos sacerdotes [gr.: archieréus] e dos mestres da lei [gr: grammatéus]. Lá ele será assassinado, mas, no terceiro dia, será ressuscitado.
Pedro, no entanto, chamando-o à parte, começou a censurá-lo, dizendo: Que Deus o livre, Senhor! Isso nunca haverá de lhe acontecer!
Jesus, dando as costas a Pedro, disse: Saia da minha frente, Satanás! Você está sendo uma pedra no meu caminho e quer me fazer tropeçar, pois está mais preocupado com as coisas humanas do que com as coisas de Deus.
E, dirigindo-se aos discípulos, declarou: Se alguém quer seguir os meus passos, que esqueça os seus próprios interesses, esteja pronto para enfrentar a morte na cruz e caminhe comigo por onde eu for.
Quem quiser poupar a sua vida, acabará por desperdiçá-la; por outro lado, se alguém abrir mão do seu egoísmo por minha causa, esse, sim, encontrará a vida plena.
Afinal, de que adianta alguém conquistar o mundo inteiro, mas desperdiçar a própria vida? Pois o que poderá alguém oferecer em troca para ter de volta essa vida?
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Pedro, aquele mesmo que, num primeiro momento, oferecera a pedra sobre a qual a Igreja haveria de ser edificada, converte-se, de uma hora para a outra, em pedra de tropeço. Aquele que, antes, como fruto de uma fina sintonia com Deus, havia compreendido a verdadeira natureza do Cristo, agora se comporta como emissário de Satanás.
De fato: trigo e joio convivem não só numa mesma comunidade, mas numa mesma alma.
Seguir os passos de Jesus não é mesmo tão fácil. É um constante cair e levantar-se. De certa forma, é morrer e ressuscitar com Cristo todos os dias, e em todo o tempo.
Leva tempo para que a graça santificadora nos molde e convença daquilo que já anunciara o profeta Isaías (55.8-9):
Porque os meus pensamentos não são os vossos pensamentos, nem os vossos caminhos, os meus caminhos, diz o SENHOR, porque, assim como os céus são mais altos do que a terra, assim são os meus caminhos mais altos do que os vossos caminhos, e os meus pensamentos, mais altos do que os vossos pensamentos.
Quem caminha pelo vale, ou atravessa florestas (mesmo as de pedra), não vê o horizonte, não sabe se perto ou longe há uma fonte, ou um abismo, ou uma clareira… Essas coisas só se veem de cima.
Não é nada sábio, nem prudente, alguém afundado no vale, ou na floresta escura, querer dar palpite no itinerário de quem está vendo a paisagem do alto.
Quem se dispõe a seguir a Cristo deve confiar, mesmo tendo consciência de que seu caminho pressupõe, entre outras coisas, sofrer e padecer nas mãos de muita gente, mas deve confiar, acima de tudo, na promessa de que lá no horizonte está a ressurreição.
Se alguém quer seguir os meus passos, que esqueça os seus próprios interesses, esteja pronto para enfrentar a morte na cruz e caminhe comigo por onde eu for.
Quem quiser poupar a sua vida, acabará por desperdiçá-la; por outro lado, se alguém abrir mão do seu egoísmo por minha causa, esse, sim, encontrará a vida plena.
A estreiteza dos vales e as sombras da floresta tornam-se menos ameaçadoras e até mais belas, quando quem vê do alto nos vai narrando o caminho das fontes, indicando a localização das clareiras e descrevendo as cores claras do horizonte.
Reverendo Luiz Carlos Ramos †
Por uma igreja de corações abertos, mentes abertas e braços abertos
Para o Décimo Terceiro Domingo da Peregrinação após Pentecostes
| Ano A, 2017